MAKTUB – Estava Escrito? – por Sidney Francez Fernandes

A idéia do determinismo da filosofia oriental concebe que Deus sabe o que faz. Se há miséria, infelicidade e sofrimento no mundo, é porque deve ser assim. Espíritas nem sempre fazem melhor. Diante do princípio da reencarnação, muitos argumentam, erradamente, que se as pessoas estão sofrendo é porque estão resgatando dívidas cármicas do passado. O grande engano cometido pelas pessoas que assim raciocinam consiste em acharem que os males do mundo são obra de Deus. Na verdade esses males acontecem exatamente pelo distanciamento do homem em relação ao Criador. Daí para se chegar ao que o francês denomina de “laissez faire”, isto é, “deixar do jeito que está para ver como é que fica”, é um passo. A atitude contemplativa ou a indiferença que caracterizam o comportamento humano nada mais são do que a personificação do egoísmo. Em outras palavras, “cada um que se vire e cuide da própria vida”.

Como ficaríamos se Jesus tivesse pensando dessa forma? Teríamos recebido a bênção da sua admirável mensagem? Provavelmente não. A sua coragem, determinação e exemplo deveriam inspirar nossas vidas de forma a nos transformarmos em verdadeiros agentes de melhoria do mundo. Cada um de nós está convidado pela mensagem cristã a dar a sua contribuição pessoal em favor de um mundo melhor. Longe da idéia do “destino” ou de que tudo “estava escrito”, com pequenos gestos e atitudes aplicados na vida de rotina diária, podemos efetivamente dar “outra cara” aos nossos relacionamentos e contribuir efetivamente para que as coisas tomem um rumo diferente daquele que estava aparentemente programado.

Difícil? Complicado? Inútil? Vejamos: é famosa a história publicada pela Seleções do Reader’s Digest (06/98) em que senhora de idade fora transferida para um apartamento, com mais segurança para a sua idade. Os filhos e netos ficaram temerosos, pois durante toda a vida as roseiras tinham sido a sua marca registrada. E ali, naquele espaço, a tendência natural seria de que ela murchasse, diante da impossibilidade de cultivar suas flores. Qual não foi a surpresa dos familiares quando, meses mais tarde, ela apresentou a sua “nova roseira” num minúsculo espaço de uma varanda.

Graças às suas mãos mágicas e sua inquebrantável determinação, ela havia transformado um pedaço de cimento frio em um paraíso florido. E mais, sua varanda havia sido eleita, num concurso local, uma das mais belas de toda a cidade.

Entregou-se ao destino? Nem pensar! A octogenária transformou o seu destino. Na verdade o que caracteriza o homem racional e o distingue da animalidade é exatamente a capacidade de transformação. Todos nós temos esse talento! Em alguns está ainda embutido. Em outros em pleno exercício. E cada um de nós tem possibilidade de fazer alguma coisa para deixar a vida mais alegre, mais solidária e menos carrancuda.

Mesmo que não tenhamos um específico talento como da avozinha das flores, vejamos alguns exemplos do que cada um pode fazer para “melhorar o destino”:

-telefone ou visite um idoso que more sozinho;

-segure a porta para quem vem atrás;

-não deixe que as pessoas “curtam” os seus problemas pessoais – fale apenas das coisas boas que aconteceram;

-mande um bilhete de apoio a quem esteja passando por dificuldades;

-telefone para um amigo cumprimentando-o pelo aniversário;

-disponibilize-se para ajudar casais inexperientes que acabaram de ter o primeiro filho;

-pare o carro diante da passarela ou do cruzamento;

-leve o carrinho do supermercado para o lugar certo;

-colabore com os iniciantes de uma atividade profissional.

São apenas exemplos. A partir de agora, se ficarmos atentos, surgirão inúmeras oportunidades de mudarmos o destino e de começarmos a transformar o nosso mundo. Raras pessoas existem que estejam totalmente impossibilitadas de dar a sua colaboração ao seu próximo. Nem condição social ou financeira são obstáculos a quem tenha disposição de ajudar. Estava escrito? Foi o destino? Nada disso. Eu sei que posso dar a minha contribuição para um mundo melhor.
Sidney Francez Fernandes

É espírita desde a infância, voluntário e orador do Centro Espírita Amor e Caridade de Bauru-SP, faz palestras por todo o Brasil, funcionário aposentado do Banco do Brasil, colunista da Rádio Alô, e divulgador da mensagem cristã por todos os meios e mídias possíveis.

 

 

 

 

 

 

 

 

*Maktub palavra árabe; significado: Já estava escrito! Tem conotação divina ou das escrituras, indica profecia ou destino. (Fonte: Wikipédia).