A garotinha, de apenas cinco anos, perguntou ao pai no velório da avó: – Pai, o que morreu, a cabeça ou o corpo da vovó? O pai, encabulado pela pergunta e igualmente surpreendido pela indagação, respondeu que tudo morreu, que morre tudo junto.
A garotinha insistiu: – Não, pai, você não entendeu. Eu estou perguntando dos pensamentos que estavam dentro da cabeça da vovó. Eles morreram também?
O pai ficou perplexo. E nós, que ouvimos essa história e que agora repassamos ao leitor, podemos constatar a lucidez e a inteligência da pergunta. Nossas crianças realmente estão bem mais amadurecidas.
O teor da pergunta, inclusive, demonstra uma grande verdade, sempre esquecida: morre o corpo, mas o ser permanece íntegro. Não somos o corpo, somos um ser imortal que conserva após sua destruição física e biológica, sua personalidade, suas tendências, seus gostos, conquistas, seus laços de afeto e desafeto, permanecendo com a necessidade de continuar aprendendo e se aprimorando, intelecto-moralmente e, claro, também emocionalmente e psicologicamente.
A vida é um ciclo constante de aprendizados, que continua além da morte física. Nossos seres amados que se foram prosseguem vivendo normalmente, pensando, sentindo, amando ou odiando – o que sugere que muito ainda precisa aprender, se ainda guardando ódio ou vingança no coração e, claro, cabem também os sentimentos de mágoas, ciúmes, inveja, desânimos ou entusiasmos e determinação, entre outros –, quer dizer, continuam a ser o que eram e prosseguem a própria caminhada de aprendizados e relacionamentos.
Estamos falando dos seres amados que já se foram, deixando saudades e que também sentem saudades, mas o mesmo raciocínio cabe a cada um de nós. Afinal, fisicamente ou biologicamente todos seremos brevemente cadáveres. Mas não somos o cadáver, somos o ser imortal que sobrevive à morte, seja por velhice, enfermidade, acidentes, etc.
Esta é a lógica da vida. Ela não se extingue. Os pensamentos e sentimentos e, portanto, as conquistas do intelecto e do sentimento continuam. Como também não se extingue a necessidade de continuar aprendendo. Há uma imensa justiça e bondade nessa realidade palpável, que tanto preconceito enfrentou ao longo do tempo e que agora começa ser percebida com clareza. Se somos seres imortais, a vida continua. Se continua, iremos para algum lugar. Um lugar deverá ser compatível com o que somos, sem perda do que somos, por bondade do Criador. Sendo uma continuidade natural, iremos para o lugar que vamos construindo gradativamente a cada dia. Céu e inferno são apenas estados conscienciais, por isso a necessidade de agirmos de forma a não guardarmos arrependimento ou remorso. Estes sim são o autêntico inferno.
Mas como Deus é bom e sábio, justo e misericordioso, as portas nunca se fecham e podemos recomeçar, reconstruir o que não fizemos bem ou deixamos de fazer. Justamente para merecer as alegrias que aguardam aqueles que cumprem o seu dever.
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Orson Peter Carrara.
Nasceu em Mineiros do Tietê – SP no dia 10 de março de 1960. Filho de pais espíritas (Roberto Pasqual Carrara e Genoefa Altemari Carrara), desde cedo vinculou-se ao Centro Espírita “Francisco Xavier dos Santos”, onde participou das antigas Aulas de Espiritismo às Crianças, da Mocidade Espírita e chegou à Presidência da Instituição por várias gestões. Na época de infância e mocidade, recebeu grande influência, em sua formação doutrinária do tio Pedro Carrara, autêntico e valoroso espírita da cidade, além dos exemplos dos pais no trabalho espírita. Atualmente reside em Matão – SP com a família. É casado com Aparecida Neuza Marana Carrara. Os filhos Cíntia, Cássio e Alexandre (os dois últimos, gêmeos) completam-lhe a família. Expositor espírita, tem percorrido muitas cidades do Estado de São Paulo e já esteve nos Estados de Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, Rio Grande do Sull, Piauí, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Norte, Paraiba, por várias vezes, para tarefas de divulgação espírita.Articulista da imprensa espírita, tem colaborado com diversos órgãos da imprensa espírita, entre revistas e jornais do país, além de boletins regionais, colunista da Rádio Alô. Tendo presidido por várias gestões a Use Regional Jaú, adquiriu grande experiência e enorme relacionamento com as Casas Espíritas da região, o que lhe valeu ampliar os contatos com dirigentes e instituições espíritas. Desse enorme relacionamento nasceu a idéia (hoje realidade concretizada) de organizar jornada de palestrantes, de diversos lugares do Brasil, que visitam variadas instituições, em programações específicas de divulgação espírita.Também mantém colunas em diversos jornais e sites não espíritas, com abordagens de estímulo ao crescimento do ser humano, onde normalmente faz indicações de filmes e livros, entre outras abordagens.
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