Votamos, elegemos, e agora ? – Valentim Fernandes

Dois galos estavam disputando em feroz luta o direito de comandar a chácara. Por fim um pôs o outro para correr.

O Galo derrotado afastou-se e foi se recolher num lugar sossegado.

O vencedor, voando até o alto de um muro, bateu as asas e exultante cantou com toda sua força.

Uma Águia que pairava ali perto se lançou sobre ele, e com um bote certeiro levou-o preso em suas poderosas garras.

O Galo derrotado saiu do seu canto, e daí em diante reinou absoluto livre de disputa.

No último domingo fomos às urnas para elegermos aqueles que nos representarão nos próximos quatro anos. Por alguns dias convivemos com o chamado horário político gratuito, onde os candidatos desfilavam as suas propostas, as mais variadas possíveis. Desfilavam, alguns, a sua ingenuidade, outros a sua ma fé.

No Livro dos Espíritos, obra básica da Doutrina Espírita, na questão 573, Allan Kardec, perguntou aos Espíritos Superiores?

– “Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados? E os Espíritos responderam:

– “Em instruir os homens, em lhe auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais.”

O homem tem necessidade de progredir, de desenvolver suas potencialidades e isso ele só faz vivendo em sociedade; e é necessário que a sociedade esteja devidamente estruturada a fim de que todos que a compõem tenham tal possibilidade.

Passado o processo eleitoral o que deve ficar é o desejo de se estabelecer por parte dos vencedores e perdedores as condições para que esse progresso se estabeleça. As disputas e o orgulho devem ser deixados de lado, a fim de que todos saiam ganhando.

Achar que ganhar significa simplesmente ser o melhor, pode levar a destruição. Muitos foram aqueles que a exemplo do Galo que cantou alto, que ficaram presos às garras de seu orgulho e se esqueceram dos compromissos assumidos.

O homem não é um ser independente. Tem necessidade do seu semelhante e da sociedade e por eles é impulsionado a progredir. Por isso tem o dever de aprender a amar o seu próximo e não explorá-lo através de suas promessas, para ganhar o seu voto, e depois esquecê-lo. Só assim poderemos nos considerar verdadeiramente civilizados.

A questão 793 de “O Livro dos Espíritos” nos ajuda a pensar sobre isso:

– Por que indício se pode reconhecer uma civilização completa?

–“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, por terdes feitos grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojais e vestis melhor que os selvagens, todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonrem e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos evoluídos, que hão percorrido a primeira fase da civilização”.

Como dizia José Herculano Pires, conceituado escritor espírita, no livro O Reino, “o chamado de uma nova ordem social está clamando no coração do mundo. E o mundo não pode deixar de atendê-lo, porque é um imperativo do progresso terreno, uma lei maior do que as leis transitórias dos homens é a expressão da própria vontade de Deus”…

Daqui ficamos torcendo para que os eleitos tenham a política como a ciência e a arte da administração justa para o bem comum, e que todos possam fazer o melhor, para si e para os seus semelhantes.

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Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.